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Retrospectiva das Bienais de Arquitetura, livro de Bete França, será lançado dia 18

Evento ocorrerá no IAB/SP, desde 1993 responsável pela mostra iniciada em duas décadas antes

Ocorrerá no dia 18 de dezembro, às 18h30, na sede do IAB/SP, o lançamento do livro “Arquitetura em Retrospectiva”, publicação que resgata a história das 10 Bienais de Arquitetura de São Paulo, realizadas entre 1973 e 2013. Fruto de uma pesquisa acadêmica realizada pela arquiteta e urbanista Elisabete França, o livro mostra os caminhos trilhados em 40 anos de exposições, que se consolidaram, principalmente a partir de sua sétima edição, como o espaço preferencial de divulgação da produção brasileira de arquitetura, passando a integrar o calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo.

 

Elisabete França atua desde os anos 80 na divulgação da arquitetura e como criadora de espaços urbanos inclusivos. O trabalho –  rico em informações históricas, com bonita diagramação e  ilustrado com dezenas de projetos expostos e premiados – foi feito tendo como fontes de pesquisa os acervos do Instituto de Arquitetos do Brasil, da Fundação Bienal, das revistas especializadas e dos principais jornais de grande circulação, além de entrevistas com curadores e críticos de arquitetura.

 

 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A autora conta que a partir da década de 1940, as artes plásticas e a arquitetura na cidade de São Paulo passavam por um momento de florescimento, especialmente com a criação do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). “ Foi um período em que a arquitetura esteve muito próxima das artes plásticas, consequência da participação da arquiteta Lina Bo Bardi na fundação do Masp, da visibilidade do arquiteto Oscar Niemeyer, cujo trabalho já era objeto de reconhecimento internacional, e da participação de Vilanova Artigas, Gregori Warchavchik, Luís Saia, Rino Levi, Eduardo Kneese de Mello, Salvador Candia, Roberto Cerqueira Cesar, Carlos Cascaldi e Jacob Ruchti na criação do MAM”. 

 

Desde a primeira edição da Bienal de São Paulo, realizada em 1951, a arquitetura ocupava um espaço da mostra de artes, mas se organizava de forma autônoma nas Exposições Internacionais de Arquitetura (EIAs).  Em 1973, presidido por Miguel Alves Pereira, o IAB organizou a primeira Bienal de Arquitetura de São Paulo independentemente da presença das artes plásticas. O evento ocupou o mesmo espaço do Pavilhão do Ibirapuera destinado às artes, mediante convênio com a Fundação Bienal, e teve como tema “O ambiente que o homem organiza: suas conquistas e dificuldades”. Surgiu, assim, a mostra independente, com a exposição geral dos arquitetos, as representações internacionais e nacionais, as mostras de arquitetos convidados, o concurso de estudantes de arquitetura e o fórum de debates.  

 

Página com reprodução do folder da 1a. Bienal: “O ambiente que o homem organiza: suas conquistas e dificuldades”

 

A autora e os curadores (esq/dir) Lúcio Gomes Machado (4a. edição), Luiz Fisberg (4a.),  Valter Caldana (9a.), Pedro Cury (5a. e 6a), Gilberto Belleza (6a. e 7a.) e Guilherme Wisnick (10a.). Na ponta direita, Túlio Salva Rocha Franco, atual presidente do IAB/SP. em cuja sede foi feita a foto. Retratos na parede (esq/dir): Carlos Bratke (presidente da Fundação Bienal); Bruno Padovano (curador da 8a. edição); Luiz Fisberg e Lúcio Gomes Machado com João Filgueiras Lima, o Lelé; Ciro Pirondi (2a. edição) e Ciro Pirondi, Rafael Greca, Fábio Penteado e Jaime Lerner (1993).

 

Aos poucos, as bienais se consolidaram como um espaço privilegiado para a divulgação da arquitetura, o debate e a manifestação crítica. Também se tornaram um espaço de encontro entre arquitetos e seus clientes, fossem eles públicos ou privados. Quase todas tiveram mais de 100 mil visitantes, algumas superaram os 180 mil. “As bienais assumiram a função de esquinas da cidade, locais privilegiados onde, a cada momento, é possível encontrar pessoas e trocar ideias. É onde os arquitetos apresentam para a sociedade suas propostas de melhoria dos espaços urbanos e onde os moradores realizam sua condição de cidadãos. O desejo de preservar a memória desses encontros tão ricos me levou a iniciar o livro”, conta Bete.

 

A sede do IAB/SP fica na rua Bento Freitas, 306, Vila Buarque. 

 

PERCALÇOS E SUPERAÇÕES –  Cada uma das dez edições é detalhada a partir de seu tema e os curadores selecionados, estrutura das exposições e, ainda mais importante, as premiações dos jurados. Na primeira Bienal, em 1973, com projeto expositivo do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, foram prestadas homenagens aos mestres do modernismo local: Lucio Costa, Vilanova Artigas, Burle Marx, Joaquim Cardoso e Flavio de Carvalho, à época recem-falecido e objeto de homenagem póstuma.

 

A mostra, contudo, só seria retomada em 1993, após longo período de cerceamento da liberdade de expressão no país, quebrado aos poucos com a Lei da Anistia, em 1979, as primeiras eleições diretas, em 1982, e o retorno da democracia, em 1988.  Igualmente aos poucos, os arquitetos e suas instituições retomaram seus fóruns de discussões sobre a profissão e a produção. Após a realização do XIII Congresso Brasileiro de Arquitetos (CBA), em 1991, em São Paulo, coordenado pelo IAB/SP, a equipe de jovens arquitetos que participou da organização decidiu retomar a tradição das mostras de arquitetura e se lançou com muito empenho na preparação da segunda edição da Bienal Internacional de Arquitetura, sob a presidência de Fábio Penteado.

 

O tema adotado foi “Arquitetura, Meio Ambiente e Desenvolvimento”. Na época, os debates internacionais estavam voltados para uma reflexão sobre o movimento pós-moderno, cujo propósito era discutir as grandes narrativas estabelecidas pelo Modernismo. Assim, se assemelhava à 1a Mostra d’Architettura de Venezia, de 1980 e cujo tema era “A Presença do Passado”, apresentando novas formas de ver e projetar a arquitetura.

 

MAIOR APROXIMAÇÃO COM A SOCIEDADE – Até 2013, continuando sob responsabilidade do IAB/SP, foram realizadas as oito edições subsequente, com uma periodicidade que variou além dos dois anos, em razão das dificuldades da organização, em especial da falta de recursos.

 

Abertura da 6a. Bienal (2005): “Viver na Cidade: Realidade, Arquitetura e Utopia” (foto Juan Guerra)

 

No entanto, as bienais do novo século, em três edições – quinta, sexta e sétima –, contribuem para a consolidação nacional e internacional da Bienal de São Paulo como o grande evento da arquitetura brasileira, recebendo a cada edição uma média de 180 mil visitantes entre profissionais e público em geral e, entrando para o grupo das três grandes bienais de arquitetura, ao lado das mostras de Buenos Aires e de Veneza. Esse ciclo virtuoso foi resultado do intenso trabalho de comunicação com a finalidade de buscar patrocínios e divulgar, com forte apoio da direção da Fundação Bienal, em especial do presidente Carlos Bratke.

 

Projeto do Museu Rodin, em Salvador, de Marcelo Ferraz e Franscisco Fannucci (foto de Nelson Kon), ilustra página de abertura do capítulo sobre as mostras mais recentes. 

 

Em 2013, a exposição – já fora do Pavilhão da Bienal desde a nona, em razão de supressão do apoio da Fundação – adotou um novo formato, buscando se integrar às redes de mobilidade da cidade e ocupando um conjunto de espaços públicos acessíveis ao grande público. Depois da décima edição, a exposição sofreu um processo de descontinuidade, quatro anos se passaram e só em 2017, a 11a edição foi aberta ao público com o tema “Em projeto”, visando ‘não ser um expositivo único, espetacularizado’, mas buscando ‘focar no processo, que busca, organiza, mobiliza e fomenta conteúdo’.

 

“Quarenta anos se passaram, chegamos ao século XXI com um perfil profissional, em sua maior parte, jovem e feminino, buscando se inserir no mercado e atuando de forma abrangente nos vários campos abertos à participação dos arquitetos, que desde 2011 contam com seu Conselho próprio. Tal contexto, caracterizado por estudos realizados pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo, completamente diverso daquele quando da realização das primeiras edições das bienais de arquitetura, reforça a necessidade de nos apresentarmos para a sociedade, mas de forma abrangente, não restrita ao público interno ou a nós mesmos”, afirma Bete França.

“Arquitetura em Retrospectiva busca fazer parte desse esforço e também alerta para a importância de reforçar os canais de comunicação com a sociedade, ampliando o papel que as entidades devem ter na organização das próximas edições da bienal, desejando que o façam a partir das lições aprendidas com as anteriores. E, mais importante, as bienais são o espaço privilegiado, quando têm abrangência nacional, para nos fazer conhecer pelos 70% dos brasileiros que reconhecem a importância de contratar arquitetos, ampliando os atuais 7% que contratam”, complementa.

 

A AUTORA – Elisabete França atualmente é Diretora de Planejamento e Projetos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e integra o corpo docente da Faculdade de Arquitetura da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), do núcleo de estudos em Planejamento e Gestão de Cidades (USPCidades-PECE-Poli) e da especialização em Habitação e Cidade da Escola da Cidade.

 

Bete  tem importante atuação na divulgação da produção arquitetônica e urbanística brasileira

 

Com mais de trinta anos de experiências em projetos urbanos, ambientais, habitacionais e gestão de projetos participativos, merece destaque o trabalho desenvolvido na Secretaria Municipal de Habitação da cidade de São Paulo, em dois períodos (1993-2000 e 2005-2012), quando teve a oportunidade de coordenar programas inovadores como o de Recuperação Urbana e Saneamento Ambiental da Bacia do Guarapiranga, realizado em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e com aporte financeiro do Banco Mundial (1993-2000), uma referência e fonte de estudo para a comunidade nacional e internacional. Entre 2005 a 2012, assumiu a Superintendência de Habitação, quando esteve à frente de uma equipe que desenvolveu, entre outros, o programa de urbanização de favelas, premiado pela UN-Habitat em 2012, com o Scroll of Honour.

Complementarmente, ao longo de toda a vida profissional, tem se dedicado à divulgação da produção da arquitetura e do urbanismo, por entender como necessário o diálogo constante com a sociedade para a difusão da profissão. Desde início dos anos 1980, vem participando da organização e divulgação da produção profissional, no Instituto de Arquitetos do Brasil (SP e DN), na Fundação Bienal e na Secretaria Municipal de Habitação.

O livro foi editado pela KPMO a partir do Catarse, uma ferramenta de financiamento coletivo que permitirá inclusive que parte da edição seja doada para bibliotecas públicas e universidades. Em breve estará à venda na internet.

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