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Menos engenheiros, mais médicos

Conselheiro do CAU/BA, arquiteto e urbanista Paulo Ormindo, publica artigo no jornal A Tarde 

Paulo Ormindo de Azevedo

Fiquei otimista com as declarações do governador que iria focar seu governo no Porto Sul e no projeto Águas do Sertão, dois pontos cruciais para o desenvolvimento da Bahia. Estas ações só serão efetivas se forem tratadas como projetos de estado desenvolvidos por instituições competentes públicas e não por empreiteiras que oferecem projetos de ocasião para pegarem obras. Estamos vendo o fracasso da renúncia ao planejamento público com os apagões de energia e agua ao mesmo tempo de inundações no Sudeste.

Mas a reforma administrativa que se anuncia atinge especialmente a área técnica, A liquidação do que restou do Derba, uma referência da engenharia nacional, com os melhores geólogos, engenheiros e urbanistas da Bahia é preocupante. O Derba não só foi responsável pela criação e manutenção da rede de estradas baianas, em seus 97 anos de vida, como o socorro emergencial de catástrofes naturais, por meio de suas vinte residências.

Outro órgão técnico que está sendo extinto é a Superintendência de Construções Administrativas, Sucab. Há anos foram liquidadas a Superintendência de Engenharia e Manutenção de Unidades de Saúde, Semus e a Conesc, que cumpria a mesma função com relação às construções escolares. Edificações publicas sem manutenção se transformam em bens de consumo duráveis, que devem ser reconstruídos a cada 15 ou 20 anos com enormes prejuízos para a educação, a saúde e os cofres públicos.

Na área do planejamento, a Conder, concebida para desenvolver a RMS, foi a partir de 1998 transformada em órgão apenas executor de projetos de empreiteiras. A Interurb responsável pela política de desenvolvimento urbano e articulação municipal no resto do estado foi dissolvida. Os resultados podem ser vistos no abandono da RMS, na transformação de Salvador em vila dormitório e cidades do interior sem saneamento nem mobilidade, lixões a céu aberto e conjuntos habitacionais sem equipamentos.

Aguas do Sertão, poderá transformar o abandonado semiárido baiano – um terço do Polígono das Secas – numa região produtiva com seu rico potencial mineral, de oleaginosas e fibras e de turístico espeleológico. Mas tudo depende da agua e o anunciado canal Juazeiro/S. José do Jacuipe pode ser uma revolução no tradicionalmente combate à seco com carros-pipas e tanques de fibra em ano eleitoral.

Infelizmente o solitário Porto Sul parece não sair do papel com a queda do valor do minério de ferro. Embora se feche esta porta, outra mais sustentável se abre, o porto de Salinas da Margarida no Canal de Itaparica, com calado de 21 m em aguas abrigadas e junto aos estaleiros de São Roque. Esse complexo industrial-portuário estaria articulado à Relan, ao Cia e ao Copec pela Envolvente Rodoferroviária da Baia de Todos os Santos. Esse polo seria o principal fornecedor de insumos e equipamentos para a exploração do pré-sal e um dos mais importantes hubports do país. Fontes de financiamento não faltariam.

Não podemos realizar esses projetos sem engenheiros. Enquanto a Rússia forma 190 mil deles por ano, a Índia 220 mil e a China 650 mil, nós formamos 40 mil e estamos diminuindo sua participação no governo. Menos engenheiros, mais médicos.

Fonte: A Tarde, de 01/02/15

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